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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

PNUD avalia cultivo alternativo no MT

Indicadores vão monitorar, no Mato Grosso, sistema em que árvores nativas, animais e plantio agrícola compartilham o mesmo espaço


DANIELLE BRANT e ANDRÉ ALVES
da PrimaPagina e do BRA/00/G31

O PNUD está fazendo uma das primeiras avaliações sobre a aplicação, na Amazônia, de sistemas agroflorestais — uso da terra em que espécies nativas compartilham o mesmo espaço que o cultivo agrícola e a criação de animais. O levantamento analisa o resultado da estratégia em sete municípios do noroeste do Mato Grosso e verifica o impacto na renda e no emprego das pequenas propriedades, e também sobre a biodiversidade.

Os dados coletados vão embasar um relatório que deverá ser apresentado em outubro às principais agências governamentais ligadas a agricultura familiar, ao governo estadual e a moradores da região.

A implantação dos sistemas agroflorestais nos sete municípios faz parte do projeto Promoção de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste do Mato Grosso. O monitoramento dos resultados começou há três anos, mas está sendo feito agora de modo mais detalhado.

"Os agricultores e os líderes das comunidades participaram do desenvolvimento desses indicadores junto a técnicos dos municípios e à própria equipe do projeto ", afirma o coordenador do programa, Paulo César Nunes.

Esses indicadores verificarão os efeitos dos sistemas agroflorestais no rendimento, no acúmulo de biomassa, na absorção do carbono, na melhoria da biodiversidade da região e no controle do desmatamento. "Uma vez que as famílias passam a ter remuneração própria, há uma redução do desmatamento, porque diminui o interesse pela exploração da madeira na floresta", diz Nunes. O trabalho de campo para coletar essas informações já foi iniciado.

Já há resultados práticos dos sistemas nos sete municípios mato-grossenses. "Algumas indústrias foram instaladas para beneficiar as produções dessas áreas. Há uma indústria grande de beneficiamento da castanha no Brasil, que aproveita toda a matéria-prima produzida e é comercializada dentro da região e na merenda escolar", aponta o coordenador do programa. Além disso, três indústrias que processam o palmito da pupunheira foram atraídas à região.

Pequenas propriedades

O projeto do PNUD foi elaborado entre 1997 e 2000 e deve ser concluído em dezembro deste ano. Os agroflorestais foram implantados em propriedades de 25 e 100 hectares nos municípios de Juína, Castanheira, Juruena, Cotriguaçu, Colniza, Aripuanã e Rondolândia.

Há indicações, segundo Nunes, de que esse tipo de cultivo aumente a biodiversidade, já que abrigam um maior número de espécies no mesmo local. “Isso favorece a fauna e a alimentação dos animais silvestres", ressalta. Ele avalia que essa pode ser uma alternativa para a recuperação de áreas degradadas na Amazônia. "Essa é talvez a principal saída para essas famílias que vivem em pequenas propriedades.”

Um dos produtores que lançam mão desse sistema é José Ramos, que possui uma propriedade de 12 hectares a 4 quilômetros do centro de Juína. Começou há 30 anos produzindo café, mas atualmente investe no gado leiteiro consorciado com ipê, seringueira, cupuaçu e castanha-do-Brasil, e também faz cultivos de pupunheira, cana-de-açúcar, teca, coco e piscicultura. Ele conta que, como muitos que foram para a Amazônia, desmatou seu lote, pois era a política da época. Depois que reconheceu a necessidade de reflorestar, vem diversificando sua propriedade com dezenas de espécies nativas e exóticas.

Já Helmut Raimann é dono de uma chácara de 4,7 hectares e há 10 anos abandonou o uso de agrotóxicos. Ele mantém castanha-do-Brasil, pupunheira e cupuaçu, além de plantar mandioca, arroz, gergelim e feijão andu. Ao todo, tem cerca de 70 pés de castanheira e 3.500 pés de pupunheira, de onde vêm sua principal fonte de renda.

Um dos exemplos da harmonia de criação de animais e espécies vegetais que geram renda em curto, médio e longo prazo é o catarinense Dirceu Dezan, também dono de uma chácara em Juína. “A natureza se adapta na variedade e uma espécie ajuda a outra, não pode ter uma cultura só”, diz o agricultor.

Com esse lema ele produz na sua propriedade cupuaçu, laranja, coco e chuchu. Faz adubação orgânica com esterco de ovinos, galinhas e irriga reutilizando água da piscicultura, que desenvolveu especialmente para este fim.

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