Ana D’Angelo e Priscilla
Oliveira
Correio Braziliense - 17/09/2012
Representantes do funcionalismo público já admitem que podem
voltar atrás no acordo de três anos feito com o governo federal. “Se o governo
Dilma acha que colocou uma camisa de força no movimento, está enganado”, disse
Josemilton da Costa, da Condsef.
Líderes dos servidores afirmam que os acordos foram
assinados com o governo até 2015 para garantir que orçamento inclua o reajuste.
E não descartam parar em 2013. O resultado das negociações da presidente Dilma Rousseff com
o funcionalismo federal está longe de garantir o sossego almejado nos próximos
três anos, prazo de vigência dos acordos assinados com quase todas as
categorias. Além daqueles que ficaram de fora do acerto — servidores das
agências reguladoras policiais federais e auditores fiscais — e que sinalizam
com novas paralisações no ano que vem, o governo deverá enfrentar greves também
dos que aceitaram os termos propostos.
Eles definem a posição do Ministério do
Planejamento nas mesas de negociações como "truculenta" e
"inflexível". Algumas categorias admitem que só aceitaram o acordo
por três anos para não ficar sem reajuste no ano que vem.
A alegação de dirigentes sindicais é que o governo
apresentou a proposta fechada pelo período de 2013 e 2015 em cima da hora,
exatamente para estrangulá-los e deixá-los sem ar para reagir a tempo. O prazo
para o governo enviar os projetos de lei com os reajustes foi em 31 de agosto e
a proposta de reajuste foi feita somente 15 dias antes disso. Sem espaço para
negociar uma contraproposta, os sindicalistas assinaram o que lhes foi
apresentado.
O governo tem outra posição: diz que os acordos pressupõem
que os reajustes para os próximos três anos já estão firmados e que os
servidores não poderão exigir mais nada que resulte em impacto nas contas
públicas no período. Logo, entende o governo, não cabe greve para reivindicar
aumento de remuneração.
"Essa não é a visão dos trabalhadores. Todo mundo sabe
que o assinado foi imposto pelo governo e que não atende às reivindicações das
categorias. Se o governo Dilma acha que colocou uma camisa de força no
movimento está enganado", rebate o secretário-geral da Confederação dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Josemilton da Costa. A
entidade é a que representa o maior número de servidores. São cerca de 510 mil,
entre ativos e inativos, de 18 categorias que correspondem a 45% do total do
funcionalismo civil do Executivo.
Segundo Costa, não se faz ou deixa de fazer uma paralisação
por decreto. "Greve surge de um sentimento da categoria que não tem seus
pleitos atendidos", avisa o secretário-geral da Condsef. Ele atesta que as
categorias assinaram acordos para garantir algum aumento em 2013 pois o tempo
estava se esgotando. "A proposta para três anos está distante do que as
categorias querem. É evidente que vão se movimentar no decorrer desse
período", avisa Costa.
Paulo Henrique dos Santos, um dos integrantes da
Coordenação-Geral da Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das
Universidades Brasileiras (Fasubra), também sustenta que não há nos termos do
acordo assinado com o governo qualquer compromisso de não fazer greve nos
próximos anos. "Tanto isso não é impedimento que as entidades que fizeram
acordo em 2011 promoveram greve neste ano", diz ele.
Quem não assinou acordo, porém, vê isso como vantagem
negocial no futuro. É o caso dos professores universitários. O Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), que
representa 53 universidades, rejeitou a oferta do governo, embora todos os
professores já tenham garantido de 25% a 32% de reajuste nos próximos três
anos.
"Podemos apresentar reivindicações a qualquer momento,
o que não acontece com os signatários do acordo", afirma a presidente do
Andes, Marinalva Oliveira, que reivindica reestruturação da carreira conforme a
região e a universidade e melhores condições de trabalho. O Andes sinalizou
ontem que a greve nas universidades acabará oficialmente nesta semana (leia
texto ao lado).
Ela não se refere a outras categorias, mas à
"concorrência" dentro do sindicalismo universitário. Marinalva
refere-se à Federação dos Sindicatos de Professores de Instituições Federais de
Ensino Superior (Proifes), que representa sete universidades e aceitou a
proposta do governo em nome de todas. O presidente da entidade, Eduardo
Oliveira, garante que o acordo aceito pressupõe que a categoria não fará greves
nos próximos três anos.
"Quando uma entidade assina um acordo por três anos
está ciente que valerá pelo prazo definido com o que tem de bom e de
ruim", diz Oliveira, que considera o reajuste de 25% a 44% obtido pelos
professores muito satisfatório diante da conjuntura econômica e na comparação
com os 15,8% concedidos aos demais servidores do Executivo.
Para o presidente do Sindicato Nacional de Funcionários do
Banco Central (Sinal), Sérgio Belsito, o governo se comprometeu a regulamentar
a convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que prevê
negociações coletivas anuais também para o servidor público, mas nem se falou
nisso este ano.
Um comentário:
O erro é entrar em greve perto da aprovação da LDO.
Teria que ser iniciada mais no inicio do ano.
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