Correio Braziliense (03/08/2011)
Vinicius Sassine
No rastro das investigações sobre as entidades fantasmas financiadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entraram na mira da Polícia Federal duas organizações contratadas via convênio pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Depois de a PF passar a investigar os desfalques feitos pelas quatro entidades que firmaram convênios com o MTE, o Tribunal de Contas da União (TCU) entrou nas investigações e mandou suspender os repasses do dinheiro destinado à capacitação profissional. Os auditores do TCU ampliaram a apuração e classificaram mais duas entidades como de fachada, contratadas oito vezes pelo MDA para desenvolver projetos de implantação de assentamentos rurais e assessoria técnica e ambiental aos assentados.
Apesar de as sedes não terem sido encontradas — a auditoria do TCU aprovada em plenário considera as organizações inexistentes —, oito convênios foram assinados e todo o dinheiro, R$ 2 milhões, foi repassado à Organização para Conservação da Biodiversidade e Meio Ambiente (Bioterra) e à Sociedade de Apoio Sócio-Ambientalista e Cultural (Sasac). O TCU chegou a pedir, em decisão publicada em maio, que o MDA suspenda os repasses de recursos. Todo o montante, porém, já foi depositado nas contas das entidades em 2009 e em 2010.
TCU investiga organizações responsáveis por atender assentados em Sergipe e mais oito estados |
A PF poderá investigar os repasses feitos e se existe relação entre as entidades de fachada financiadas pelo MDA e as organizações bancadas pelo MTE. O Ministério do Desenvolvimento Agrário informou ao Correio que as duas organizações funcionam normalmente e que apenas mudaram de endereço, sem informar ao sistema de convênios do governo federal — o que não permitiu a inspeção do TCU. O desencontro custou a suspensão temporária dos contratos com a Sasac. Já a Bioterra, teve os repasses suspensos, embora o projeto tocado por ela esteja sendo executado normalmente. O tribunal, no entanto, permanece considerando as duas como fantasmas.
Aditivos ilegais
As irregularidades detectadas pelo TCU envolvendo repasses do MDA não se restringem ao programa de assentamento rural em Sergipe, onde foram encontradas supostas entidades de fachada recebendo recursos. Em pelo menos mais nove estados, o TCU detectou ilegalidades em contratos assinados por entidades que, ao todo, já receberam R$ 30,3 milhões do MDA. Em um dos casos, a Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais (Fepaf) fez aditivos sem “respaldo legal” com o MDA para executar serviços de assessoria técnica e ambiental nos assentamentos. A manobra fez o gasto por família subir de R$ 540 para R$ 796 em um ano — o TCU quer a devolução da diferença. A Fepaf já recebeu mais de R$ 18 milhões do MDA.
Outras auditorias detectaram desvios de dinheiro em repasses a entidades de Tocantins e fraudes em convênio no Maranhão. As entidades não encontradas pelo TCU em Sergipe deveriam elaborar estudos para 32 projetos de assentamento, desenvolver projetos de recuperação de áreas degradadas e apoiar o “desenvolvimento agroecológico” no alto sertão sergipano.
SOB INFLUÊNCIA PETISTA
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) é um tradicional reduto do PT desde o início do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os petistas também controlam o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e suas superintendências nos estados. Eleito deputado federal pela Bahia, Afonso Florence assumiu o cargo de ministro da pasta em janeiro, por indicação do governador do estado, Jaques Wagner. Afonso substituiu Guilherme Cassel, do Rio Grande do Sul. Os dois pertencem à mesma ala do PT. O petista é um dos seis ministros que a oposição pretende convocar na Câmara para prestar esclarecimento sobre denúncias de corrupção publicadas pela imprensa
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