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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Bandeiras de uma nova etapa

Rui Daher
De São Paulo para Terra Magazine


Nesta semana a coluna completa dois anos em Terra Magazine.

Na estreia ("Prazer em conhecê-los", de 10/12/08), eximia-me de discutir negócios para tratar dos homens e mulheres que trabalham e empreendem no meio rural brasileiro.

Informado pelo antropólogo mineiro Darcy Ribeiro (1922 - 1997) e pelo escritor paulista Monteiro Lobato (1882 - 1948), juntava no mesmo saco dos Jecas-Tatus os crioulos, caboclos, sertanejos, caipiras, gaúchos e imigrantes que formavam as etnias da agropecuária nacional.

Um evidente equívoco antropológico e histórico, mas uma liberalidade que acredito certeira. Afinal, apenas recentemente a sociedade urbanoide e seus meios de divulgação ampliaram o interesse pelos "causos" rurais e começaram a desvincular seus personagens da caricatura feita por Lobato.

Penso nunca ter deixado de referir-me a eles. Mesmo fosse o assunto a impossibilidade de implantar uma usina de etanol numa pequena cidade da Suíça.

Apesar de reconhecer o estágio de desenvolvimento alcançado pela produção agropecuária e suas interações com a agroindústria, não me coloco ao lado daqueles que encontram no saldo positivo da balança comercial o perdão para tudo.

As deficiências dos processos produtivos agrários do País são enormes. Talvez, tanto quanto as suas excelências, por sinal, independentes daquelas assentadas nas bancadas congressuais.

Por óbvios, desnecessário se alongar sobre o deplorável estado de uma infraestrutura envelhecida como o uso de galochas. Ou a falta de um Plano Agrícola, coordenado pela Casa Civil, que integrasse todos os ministérios envolvidos com a atividade.

A coluna prefere ser mais pontual. Daí permanecer, enquanto este espaço lhe for concedido, com suas bandeiras mais frequentes:

a) Garantia de renda aos agricultores nas más conjunturas através de subsídios diretos aos preços de comercialização;

b) Extensão das atividades primárias locais até unidades industriais e de serviços;

c) Intensificação da pesquisa de insumos agrícolas eficazes, de baixo custo, com incentivo e divulgação para o uso daqueles já existentes;

d) Resistência ao conservadorismo institucional do setor que insiste em adornar movimentos sociais e ambientais sérios com apliques de ignorância histórica.

Ainda assim, é inegável que se caminha. Pena que nem sempre pelos caminhos corretos.

Para o primeiro item, discute-se na Câmara projeto de lei, aprovado pela Comissão de Agricultura, que transfere R$ 25 bilhões por ano do Tesouro Nacional para os produtores rurais.

"Atenção, amigo ouvinte da Rádio Clube de Rondonópolis (MT)! Corra até a agência do Banco do Brasil e tome lá seus R$ 500 por hectare de terra cultivada ou explorada com pecuária". Perigo, perigo, costumava dizer um gracioso robô de uma antiga série de TV.

Para o segundo, os Arranjos Locais Produtivos, programa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ainda são incipientes.

O terceiro desafio é páreo duro. Há que se equilibrar tecnologias novas, desenvolvidas em instituições de pesquisas governamentais ou privadas, fabricadas por empresas pequenas e médias de restrito poder de divulgação com aquelas patrocinadas por multinacionais com poder massivo de distribuição e propaganda.

Quanto ao conservadorismo institucional, quem sabe em março de 2011 poderemos vê-lo amenizado: a Mocidade Independente de Padre Miguel, escola de samba do Rio de Janeiro, trará o enredo "Parábola dos Divinos Semeadores", homenagem à agropecuária, patrocinada pela CNA (Confederação Nacional da Agropecuária).

Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

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