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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Reduzir a vulnerabilidade climática diminuindo os pobres?

Amália Safatle
De São Paulo para Terra Magazine


Que as populações mais pobres são as mais vulneráveis às mudanças climáticas e com menores condições econômicas e tecnológicas de se adaptar a elas, já se sabe.

Mas neste link é possível visualizar essa vulnerabilidade em cores, por meio de mapas que cruzam quatro elementos: locais menos resilientes aos fenômenos climáticos, a projeção de produção agrícola até 2020, a escassez de água ou estresse hídrico dos países em 2005, e a taxa de crescimento populacional.

Os dados foram publicados pela organização norte-americana Population Action International, que chamou essas áreas mais expostas de hotspots (ou "pontos quentes").

Em média, os países africanos reúnem o que se pode chamar de pior dos mundos, seguidos por alguns asiáticos e outros das Américas Central e do Sul.

Foram identificados 33 países hotspots, com taxa de crescimento populacional projetada em 2,5% por ano. O documento ainda alerta: se mantido esse ritmo, essas nações vão dobrar a população em 28 anos. E destes 33, nove já sofrem de estresse hídrico.

Curiosamente, o Brasil aparece nos mapas como se passasse incólume aos efeitos do aquecimento global, quando na verdade algumas de suas regiões já são e serão especialmente afetadas, como a Nordeste e a Sul, com secas severas e queda de produção agrícola - é que o estudo levou em conta países e não regiões.

Mas o que mais chama atenção no estudo é uma das respostas apontada para minimizar a exposição dessas populações que habitam os hotspots: o controle populacional por meio de planejamento familiar. O raciocínio parece simples: é preciso que haja menos gente para alimentar, dado que as condições climáticas vão afetar a oferta de comida e água.

Mas é de se perguntar: quão ética é uma proposta dessas? Para resolver o problema da pobreza (e sua vulnerabilidade), a saída é reduzir o número de pobres? Ou será que há outras soluções como promover o desenvolvimento dessas populações, para que conquistem capacidade adaptativa à mudança climática?

Por que exatamente se fala em controle populacional nos países mais pobres, e não nos mais ricos? Não é sabido que parte considerável da população nos países pobres é camponesa, ou seja, a família numerosa é importante como força de trabalho? Não é sabido que os países ricos são os maiores poluidores históricos? Que a pegada ambiental dos ricos é bastante superior à dos pobres?

A Population Action, sob o slogan Healthy Families Healthy Planet defende o planejamento familiar como forma de se perseguir o bem estar das pessoas em países em desenvolvimento, a fim de que tenham maior controle de suas vidas ao dimensionar suas famílias - e "de quebra" o "equilíbrio do planeta". Mas é preciso cuidar como essa proposta é apresentada. Pois, nesse mundo complexo, as soluções não são simples, e muito menos podem ser simplistas.

Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.

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