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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"Ideias para Dilma"

Rui Daher
De São Paulo (SP) para Terra Magazine


A edição desta semana da sempre boa revista "CartaCapital" traz um caderno com o título acima.

Vários especialistas, entre eles Delfim Netto (Economia), Alfredo Bosi (Cultura) e Adib Jatene (Saúde), opinam sobre caminhos que ajudariam a presidente eleita a fazer um bom governo e o Brasil a subir mais alguns degraus em seu desenvolvimento.

À exceção de uma rala menção à Embrapa no capítulo sobre Ciência e Tecnologia, escrito pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Marco Raupp, a agropecuária não foi chamada a opinar.

Deixa-se, assim, de lado o agronegócio, que representa mais de um terço do PIB brasileiro e 40% de nossas exportações em 2010. Pior: segundo o IBGE, esquece-se 18 milhões de pessoas ocupadas diretamente na agropecuária.

Otimistas, poderíamos crer estar tudo bem e nada precisar ser mudado. Consolidaríamos a noção de "Brasil Potência Agrícola" com base apenas nos resultados da produção e da balança comercial. Tanto a presidente como seu ministro já indicado, Wagner Rossi, poderiam descansar.

A coluna também, se assim pensasse.

A agropecuária brasileira, como de resto a do planeta, precisa muito do Estado e, se chamados, analistas, entidades e produtores rurais teriam muito a sugerir a Dilma Rousseff.

Talvez, ela não ouvisse novas e grandes ideias. A produção brasileira de alimentos muito caminhou nos últimos 50 anos.

Eu, com meus botões, para não tomar muito tempo da presidente que botões alheios predizem pegar uma conjuntura menos favorável que a de seu predecessor, sugeriria a ela três pontos.

Criar, com apoio e acompanhamento dos sistemas financeiros público e privado, e recursos do Tesouro Nacional, um seguro rural moderno, completo, com regras claras e cobertura para situações climáticas e de mercado adversas.

A banca irá gostar, pois nada pior do que ficar prorrogando dívidas e perdoando juros que nunca serão pagos.

Mais uma, presidente: não gaste um tostão com os burocratas que lhe propuserem fazer o "Planejamento Agrícola 2011/2030". É bobagem. Os agricultores já o fizeram usando o conhecimento que os burocratas iriam lhes perguntar.

No lugar, agregue recursos federais às prefeituras dos municípios com preponderância de produção agrícola familiar e dê incentivos para que a iniciativa privada instale cooperativas, unidades industriais ou de serviços, para transformação da produção primária e ocupação de mão de obra.

Outra: reveja o Código Florestal relatado pelo seu aliado Aldo Rebelo. Não tenha pressa. Esse é um assunto delicado, envolve muitos interesses partidarizados, e gente boa e equilibrada ainda não foi ouvida. Há ainda muito espaço para o crescimento da produção sem mexer no que aí está colocado.

Fome no mundo

Na semana passada prometi voltar ao assunto. Comentaria outras conclusões sobre a pobreza no relatório do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD, na sigla em inglês).

Com uma diferença: passaria do elogio à crítica.

Para o IFAD, dos países em desenvolvimento, no período entre 1988 e 2008, foi no Brasil que a produtividade do trabalho agrícola mais cresceu (123,7%). O valor agregado por agricultor saltou de US$ 1.435 para US$ 2.311. Conta feita dividindo-se o Valor Bruto da Produção pelo número de agricultores do país.

Sabe-se, pelo IBGE, que entre 1970 e 2006 a população rural declinou 7% em termos absolutos e mais de 50% em termos relativos. A mecanização cresceu 375%.

Produtividade do trabalhador?

Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

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