Valorizar os servidores do Ministério do Desenvolvimento Agrário é valorizar a reforma agrária, a agricultura familiar e o desenvolvimento rural sustentável e solidário!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Até tu, Marina? Até tu, Chico Mendes? Até tu, Aziz?


(Ilustração: Gabriel Daher)

Rui Daher
De São Paulo (SP) para Terra Magazine

Desde abril deste ano, o senhor Wagner Rossi é ministro da Agricultura. Substituiu a Reinhold Stephanes, candidato (PMDB-PR) à reeleição para a Câmara dos Deputados. Rossi também fez carreira política no PMDB e passou por cinco legislaturas.

Paulista de Ribeirão Preto (SP), na gestão anterior foi presidente da CONAB. É formado em Direito pela USP, pós-doutorado nos EUA, professor universitário, empresário e produtor rural por mais de 30 anos. Conquistas que devem orgulhá-lo.

Em artigo para o "Valor", de 11/8, ele defende o novo Código Florestal (CF), ainda não sancionado. Antes, enaltece "a preservação dos recursos naturais, o respeito pelo ambiente, a defesa da biodiversidade". Faz-nos felizes.

Quando chega à alimentação, é para dizer que "comida é vida, é sobrevivência, é combustível para existir. (...) Sem ela, não chegamos a qualquer outra atividade humana". Deixa-nos aliviados.

Desnecessário ir mais longe. O leitor inteligente já percebeu o corolário que se aproxima a passos lentos, quase pisando em ovos, e chega com uma mensagem poética: "São os produtores rurais que, no amaino cotidiano da terra, cuidam da natureza".

Não duvido, suponho até que muitos o façam, mas penso: quem, então, nas últimas décadas, apesar de um CF ferrenho, teria provocado tanta devastação ambiental?

O próprio Rossi nos dá a pista. "Pessoas que não conhecem a realidade da vida no campo (...) e por mais bem intencionadas que possam ser, estabelecem limites que oneram um setor produtivo que já enfrenta dificuldades para continuar a garantir alimento ao povo brasileiro".

Mais uma vez, o leitor perspicaz já identificou o alvo do ministro.

Sabemos que, à exceção de algumas situações pontuais que justificam adaptações no código atual, como o tratamento regionalizado dos biomas, há condições plenas de se aumentar a produção agrícola preservando as regras ambientais de hoje.

Assim pensam insuspeitos críticos do novo Código.

Aziz Nacib Ab'Saber, por exemplo, geógrafo e professor aposentado da USP, laureado mundialmente e referência em assuntos ligados aos impactos ambientais, aos 85 anos, não merece estar no rol de inocentes úteis. O mesmo pode-se dizer daqueles que dão título a esta coluna. Em palestra apresentada no último congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, o geógrafo alerta para uma futura hecatombe.

Critica o desconhecimento de quem conduziu a reforma. Mostra os riscos de estadualizar "questões referentes à progressividade do desmatamento que exigem ações conjuntas de órgãos federais específicos (...) uma Polícia Federal rural, e o Exército Brasileiro".

Sugere o correto, que sempre esteve para ser feito e nunca o foi: "Focar para o zoneamento físico e ecológico de todos os domínios de natureza do país".

Aziz insiste que, antes de se mudar o CF, sem um estudo mais aprofundado, é necessário ampliar sua abrangência até um Código de Biodiversidade. Ideia que remetida a Brasília voltou com a pecha de complexa e inoportuna.

Ah, Brasília, quando os senhores conseguirão entender que complexa é a estrutura geomorfológica do país e inoportuna a interessada intervenção de Vossas Excelências?

O que Aziz e muitos inocentes que o seguem querem é informar que temos "duas principais faixas de florestas tropicais brasileiras (a amazônica e a das matas atlânticas), o domínio dos cerrados (...) a região semiárida dos sertões nordestinos, os planaltos de araucárias e as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, além do litoral e do Pantanal mato-grossense". Cada um com mosaicos vegetais específicos.

Deveríamos ouvi-los.

Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

Nenhum comentário: